sábado, 26 de março de 2022

A Caminhada (Capítulo 03)

 A Caminhada (Capítulo 03)

Eu cheguei ao mosteiro à Isola de San Lazzaro.
No fim de setembro de 1955.
Como seminarista da Congregação Mekhitarista
Quando era ainda, o principal mosteiro Mekhitarista
Onde o Lorde George Byron, o poeta inglês.
Morou e estudou armênio de 1816 a 1823.

Hoje a principal abadia fica em Viena.
Na ilha vivem hoje, apenas 17 seminaristas
Administrando a ilha, que hoje é um ponto turístico..
O mosteiro com o seu museu e a biblioteca.
Um acervo muito grande de obras de arte.
Tem até uma múmia egípcia.
Recebe mais 40.000 turistas por ano.

Ao chegar a minha nova morada.
Ao mosteiro na Isola di San Lazzaro.
Percebi que, aqui, não teria uma Margot….
A abadia só tinha homens.

Aqui, o silêncio falava mais alto.
Era o caminho para o celibato.
Fora da sala de aula só se falava do sacro.
A educação era de excelência.
Mas faltava o primordial.
Não se via um olhar cativante.
Não se via um sorriso atraente.
Não havia uma música dançante.
Não ouvia uma piada para dar risada.
Não havia espaço para ter uma namorada.

Qualquer assunto fora do contexto era evitado.
O dia começava assistindo a missa e rezando.
E a tarde, era a vez de rezar o rosário.
Ficar ajoelhado, para mim era um calvário.
Sempre o mesmo cenário.
No mesmo horário.
A mesma oração.
A repetição
Sem uma explicação.
A confissão.
A confissão dos pecados.
Que pecados?
Dos pensamentos inconfessáveis?
De polucão noturna?
O silêncio fala mais alto.
Sonhar debaixo do manto.
Além de pensar no ato
É consumado é um fato.
Não tinha como não pecar.
E o despertar sexual.
Só se for pecado na imaginação virtual.

O mundo fora do mosteiro.
Era só na quarta-feira à tarde.
Íamos de barco até a ilha do Lido.
Uma caminhada à beira mar.
Ou numa praça ou num jardim.
Às vezes na praia,
Desfile de mulheres lindas de biquíni, sem fim
O colírio pros os olhos
Corpos em forma de violão
O sensual e o sexual
As partes íntimas quase expostas e o sorriso exponencial
Passeando na frente da gente rebolando
Olhando pelo cantos dos olhos provocando
A gente com cara de pateta babando
É a natureza, provocando sonhos e desejos.
O despertar dos hormônios à flor da pele.
E nesta hora, o sangue sobe e provoca o desejo,
O desejo de conexão carnal.
O desejo de se complementar no sexo
Duas almas num corpo só
A eternidade, a perpetuação.

Aos 14 anos, me sentia enclausurado.
Na verdade, eu estava sendo anulado.
Num mundo sem sexo
Num mundo sem nexo.
Num mundo perplexo
Num mundo sem côncavo e convexo
Aí veio o reflexo
De querer me libertar,
queria criar asas para voar.
Precisava de uma mudança radical.
Numa manhã de junho de 1957
Olhei para a capa do meu caderno.
Lá estava o postal mais lindo que eu havia visto.
O desejo de ver aquele postal, ao vivo inteiro.
Aí pensei, em abandonar o mosteiro
Eu tinha tudo de graça
Mas a vida no mosteiro não tinha nenhuma graça..

Queria ser um mundano.
Aí, resolvi ..,……
Eu volto para contar, já já.
Até..,…..

Por
Aslan Minas Melikian
Niteroi, 03/03/2022


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